TRILOGIA PARA LUIZ VAZ DE CAMÕES, “O INSPIRADO”
I
A EPOPEIA DO AMOR
O rumo das estrelas foi, há muito, traçado
por videntes do tempo em que os poderes
juntavam o talento, a inspiração e o fado,
entre os mais importantes tesouros e haveres.
Haveres de alma que moravam no coração
e no peito, de onde Luiz de Camões cantava.
Quando, sobre o papel, na sua suave mão,
a pena com tinta de sentimentos cursava.
De amor, as primeiras estrofes, sempre de amor.
De alma iluminada aos versos e estrofes entregou
o que de maior nobreza havia em seu interior.
Em idílios por terras do Mondego, deliciado passeou
admirando as águas que corriam e o feminino ardor,
até chegar ao Oriente onde por Dinamene se apaixonou.
II
A EPOPEIA DE PORTUGAL
Um amor diferente de outros amores descobriu.
Cedo, muito cedo, deu por tão intensa afinidade:
Portugal era o nome, a terra que respirou e sentiu
na entrega ao mundo, como Luz da Humanidade.
Cresceu a ouvir lendas de homens do mar, navegantes
que desencantaram ilhas, descobriram continentes.
Homens que não deixaram o mundo como dantes
pois lhe acrescentaram o contacto com novas gentes.
E Camões, que se tivesse cognome seria O Inspirado,
em alma criou versos e em cada verso cunhou um sinal.
Dos profetas navegadores recebeu o dote iluminado.
Não para que à arte poética lhe fornecessem o sal
que jamais precisaria para a sua missão de fino cantado.
O dote era, tão só, a realizada epopeia de Portugal.
III
SERVO DA POESIA E DO AMOR
Camões viajou por onde, em seu tempo, poucos imaginaram.
Poeta, cronista, homem de armas, seguiu firme nas naus.
Nunca suas glosas foram brandas nem as musas se cansaram.
Na poesia, exorcizou todas as fraquezas e presságios maus.
Nas lonjuras, encontrou o azimute, o lugar, o vital acolhimento.
Jamais na distância viu temor. Sentia, no longe, a casa que deixara.
Em cada nova terra reconheceu as constelações e o firmamento.
Em cada novo oceano, viu que a inspiração nunca o abandonara.
Servo da poesia foi Camões, mais que de Portugal ou do mundo.
Mais servo, ainda, terá sido dos ditames revelados pelo amor.
À poesia e ao amor se entregou, num desmando intenso e fecundo.
Desmando de poeta e de amante que lhe trouxe o êxtase, a dor.
E que levou a sua alma até ao mar mais sublime e profundo.
O mar onde navega a obra de Camões em eternidade e esplendor.
MÁRIO MÁXIMO
(Sonetos escritos no meu escritório literário, entre os dias 18 e 19 de março de 2023)